A importância da educação religiosa na criação
Como manter filhos na igreja
Noemi Vieira
Desde os primórdios
da humanidade, a família tem sido a base principal da sociedade. Os costumes,
os comportamentos e até mesmo os cenários se modificam com o passar dos
séculos. Mas o papel que a família exerce permanece essencial. É desse pequeno
núcleo que vem a formação de caráter de uma pessoa e até mesmo de sua
personalidade. E, nesse contexto, é preciso destacar a importância da educação
religiosa dentro de muitas casas, especialmente, nos lares evangélicos.
O assunto adquire
grande destaque. Até porque, biblicamente falando, existe uma responsabilidade
dada aos pais sobre a continuidade dos valores cristãos dentro de casa,
conforme o trecho em Provérbios: “Ensina a criança no caminho em que deve
andar, e ainda quando for velho, não se desviará dele”. Neste tempo de 2008, a
missão de educar um filho segundo os princípios cristãos e fazê-lo permanecer
na fé depois de adulto continua valendo, embora essa tarefa seja cada dia mais
complexa. Influências diversas dos meios de comunicação, das escolas, da
internet, etc., podem provocar desvios de comportamento, gerando mudanças de
interesse e de atitudes. Nesse sentido, é fundamental descobrir a resposta para
uma questão: qual o método mais eficaz para criar os filhos dentro da igreja?
A INFÂNCIA
Não há uma regra
única e infalível para responder à pergunta, mas psicólogos, educadores, pais e
pastores concordam em, pelo menos, um ponto: tudo começa na infância. “Até os 7
anos, a criança está em formação da sua personalidade. A criança pequena é como
uma esponja, pois absorve tudo o que lhe é ensinado. O que aprende nessa fase,
vai levar para o resto da vida. Quanto mais cedo conviver com a idéia de Deus,
certamente isso será apreendido de forma mais profunda”, explicou a psicóloga
Elizabeth Pimentel, autora do livro “O poder da palavra dos pais” (Hagnos).
O casal Gerson e
Aline Daminelli, membros da Igreja Batista e pais de Camila (18 anos), Priscila
(16) e Isabela (7), é exemplo de como a educação religiosa durante a infância
pode ser eficaz. Ambos são “frutos de lar cristão” e, assim como aprenderam com
os pais, começaram a educar suas filhas no cristianismo desde cedo. “Num
primeiro momento, a gente sempre as levava, incentivava e acompanhava à igreja.
Quando elas emburravam, a gente obrigava, sempre mostrando a elas o prazer de
ir à Casa do Senhor”, afirmou Aline.
É claro que esse
processo não aconteceu automaticamente. Uma das estratégias para conseguir
manter a família unida numa mesma fé foi, segundo o casal, a confiança
estabelecida com as filhas. “Nossa relação com as meninas é de extrema
confiança. E isso é coisa que se conquista. Você vai acompanhando, educando,
participando, ouvindo e deixando com elas a tomada de decisão em relação às
questões da vida.” Gerson também diz que a imposição não é usada, mas, sim, o
aconselhamento.
DIÁLOGO É FUNDAMENTAL
A experiência de
Gerson e Aline também mostrou que o diálogo franco e honesto, desde criança,
estabelece um vínculo saudável entre pais e filhos. No entanto, muitos resistem
à idéia da conversa aberta com medo de perder controle e autoridade. “Não
gostamos de ser questionados por filhos e nem que eles apontem nossos erros.
Mas eles precisam compartilhar conosco suas experiências, problemas,
expectativas, anseios, medos, frustrações, decepções, segredos, alegrias,
etc.”, explicou o pedagogo e escritor Marcos Tuler, chefe do Setor de Educação
Cristã da Editora Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD).
Outro ponto relevante
nessa caminhada de ensino aos filhos é a imposição – ou indiferença dos pais em
relação ao pensamento dos filhos –, que pode causar um sentimento de
distanciamento e descrédito. É preciso, antes de tudo, respeitar o que os
filhos pensam.
Esse é o princípio do
livre arbítrio. O pastor Josué Gonçalves, escritor especializado na área de
família, mostra que o diálogo produtivo entre pais e filhos, no que se refere
ao Evangelho, ocorre quando os pais respeitam o direito dos filhos de escolher.
Ele afirmou que pais podem convencer o filho com a verdade, se esta verdade não
for imposta.
Mas a etapa mais
difícil de criar os filhos deságua na tão discutida adolescência. É nessa fase,
ressaltou Marcos Tuler, que os filhos têm muitos conflitos emocionais, são
inseguros e inconstantes. “E porestarem passando pelo período de maior
abstração e reflexão dos conhecimentos recebidos, são facilmente influenciados
pelas filosofias anticristãs.” É também o que confirma a experiência do pastor
Edílson Lopes e sua esposa Regina Sartori, da Assembléia de Deus, em Arenápolis
(MT), que são pais de três filhos: João Ricardo (18 anos), Keren (16) e Filipe
(19). Todos atingiram a fase da adolescência quase simultaneamente. Segundo
Lopes, conseguir mantêlos na igreja foi uma tarefa difícil, mesmo com sua
vocação pastoral.
É também na fase da
adolescência que o exemplo dos pais em relação à prática da fé cristã é
colocado à prova. Para a jovem Keren Sartori, a conduta dos pais foi de
fundamental importância para que ela continuasse nesse caminho quando se sentiu
frágil. “Foi difícil passar pela cobrança da igreja, mas minha mãe e meu pai
sempre conseguiram me mostrar o que é ser crente. É muito além de ir à igreja.
E isso me ajuda a permanecer na fé e a querer me parecer com eles”, reconheceu.
Ou seja, os atos precisam condizer com o discurso dentro de casa. “Se os pais
estão convictos de sua fé, os filhos se sentem seguros e desejam acompanhá-los
em suas escolhas e decisões.
DICAS QUE PODEM
AJUDAR NA CRIAÇÃO DOS FILHOS*
1. Lembre-se de que
presença vem antes de presentes
2. Procure sempre
mostrar que disciplina é um ato de amor
3. Nunca dê carinho
sem impor limites
4. Ensine a verdade,
praticando-a
5. Conte sua história
aos filhos
6. Seja amigo pessoal
deles
7. Não anule a
disciplina que foi aplicada
8. Ensine-os a se
submeter à dor da disciplina fazendo o que não gostam hoje, para terem o que dá
prazer amanhã
Os sermões mais
convincentes são os pregados em casa, na sala de estar, às refeições, nos
momentos de lazer”, acrescentou Marcos Tuler. Crianças geralmente observam tudo
e procuram verificar se aquilo que os pais dizem sobre religião e fé faz parte
da experiência de vida deles. Se os pais estão dispostos a obedecerem àquilo
que ensinam, então, são dignos de inteira confiança. Cabe também à igreja o
papel de auxiliar e dar suporte à educação dos filhos de seus membros. Esse
trabalho deve ser desenvolvido para todas as idades. É aqui que entra a
importância das organizações dominicais, como escola bíblica, grupos de música
e ainda retiros e outras atividades da igreja. “Funciona como um suporte,
porque a responsabilidade religiosa dos filhos é dos pais. O que realizamos são
trabalhos direcionados”, esclareceu Leninha Maia, autora do livro “Manual
prático para líderes de jovens e adolescentes”(Candeia), além de coordenadora
da área de infância da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro.
Para a escritora,
grande parte dos adolescentes se afasta da fé porque não aprofundou suas
habilidades dentro da igreja. Outros, porque viram seus amigos de infância se
distanciarem da fé. Daí a necessidade de incentivar as crianças a “fazerem o
social” com outros coleguinhas da igreja. Essa troca fortalece a vida
espiritual delas. “Muitos pais saem do culto correndo para casa e se esquecem
de que os filhos precisam desenvolver essas amizades. Além disso, os pais
precisam mostrar a alegria de estar na igreja para que os filhos desejem
permanecer mais tempo ali”, acrescentou Leninha Maia.
Além da boa vontade,
a igreja precisa ser criativa e contextualizada com o mundo atual para atrair
as crianças e os adolescentes às suas atividades. A autora disse que é preciso
desenvolver uma escola dominical que ensine a Bíblia, mas aborde os assuntos
atuais – como drogas e masturbação – para que o jovem consiga aplicar a Palavra
de Deus à sua realidade. As programações da igreja também precisam englobar os
pais para que eles tenham ciência do que seus filhos estão aprendendo dentro da
igreja.
Esse tipo de trabalho
é levado a sério na Assembléia de Deus em Maringá (PR). Lá, foi implantado o
Projeto Sementinha, que acompanha a formação religiosa de cerca de cinco mil
crianças em toda a Região Metropolitana da cidade. Uma das atividades da
iniciativa é capacitar professores para dar aulas de escola dominical. E,
aliado ao conhecimento técnico-pedagógico, o Sementinha também ensina os
professores a lidar com crianças que não são filhas de pais evangélicos e
sofrem problemas como espancamento e alcoolismo dos pais. “Procuramos passar
valores morais para essas crianças, além de falar sobre questões como o meio
ambiente, a consciência da cidadania, a necessidade de ser um bom aluno na
escola secular e a obediência”, exemplificou a professora Taffaneto.
Só que é
imprescindível mencionar o que pais não devem fazer em hipótese alguma, o que é
advertido no trecho bíblico do livro de Efésios: pais não devem provocar a ira
nos filhos, antes devem ensiná-los, protegê-los, corrigi-los, oferecer-lhes
bons exemplos e, acima de tudo, amá-los.
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